sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Sobre a boa literatura infantil...

A literatura é a arte de ouvir e de dizer, logo, nasce com o homem. Portanto, é necessário ter-se em mente que todo o patrimônio cultural da humanidade vem da literatura. A literatura nasceu, desenvolveu-se e cresceu, e com tudo ganhou grande força no segmento infantil, principalmente com os contos.
A boa Literatura infantil enriquece o imaginário da criança e oferece condições de liberação sadia, levando-a a usar o raciocínio e a cultivar a liberdade. A criança é criativa e precisa de matéria-prima sadia, e com beleza, para organizar seu “mundo mágico”, seu universo possível, onde ela é dona absoluta: constrói e destrói. Constrói e cria, realizando-se e realizando tudo o que ela deseja. 
A imaginação bem motivada é uma fonte de libertação, com riqueza. É uma forma de conquista de liberdade, que produzirá bons frutos, como a terra agreste, que se aduba e enriquece, produz frutos sazonados.
















Afinal, o que é letramento literário?

Na perspectiva de letramento, entendido como um fenômeno que envolve saberes e atitudes que estão presentes nos contextos sociais da leitura e da escrita, pode-se ressaltar a suma importância do trabalho que investe na formação do leitor a partir de diferentes tipos / gêneros textuais. Sobretudo, aquele que investe no letramento literário.
De acordo com o Dicionário Aurélio básico da Língua Portuguesa, o termo Literatura tem origem no latim “litteris” que significa “letras”. Em latim literatura significa uma instrução ou um conjunto de saberes ou habilidades de escrever e ler bem, e se relaciona com as artes da gramática, da retórica e da poética. Segundo o dicionário, a literatura é a arte de compor obras em que a linguagem é usada esteticamente e em que é usada uma língua como meio de expressão.
Literatura (mitos, estórias, contos, poesias) é uma das maiores riquezas da humanidade, pois permite que o indivíduo crie possibilidades para conhecer, transmitir e comunicar-se com o mundo que o cerca e com o seu imaginário. Carvalho afirma que a
Literatura é a arte de ouvir e de dizer, logo, nasce com o homem. Suas origens se assinalam com o uso da palavra: filogeneticamente, o homem aprendeu a falar – dizer – antes de ler e escrever, como, ontogeneticamente, acontece à criança, portadora de sua bagagem linguística, antes de alfabetizar-se. E essa capacidade de ouvir e dizer é o ponto de partida da Literatura. (CARVALHO, 1985, p.47)
O letramento literário é o processo de apropriação da literatura enquanto linguagem. Este letramento começa desde as cantigas de ninar na infância e continua por toda nossa vida a cada livro lido, a cada novela ou filme assistido, a cada reportagem ou matéria e em diversos aspectos do nosso cotidiano.
Contudo, o letramento literário efetiva-se quando acontece o relacionamento entre um objeto material, o livro, e aquele universo ficcional, que expressa por meio de gêneros específicos – a narrativa e a poesia, entre outros – a que o ser humano tem acesso graças à audição e à leitura. (ZILBERMAN, 2007, p. 247)
Investir no letramento literário abre portas para o universo da imaginação, que nos permite desenvolver o pensamento criativo, fundamental para nossa inserção no mundo moderno.
Britton (apud Kato, 1997) já afirmava que, ao ouvir histórias, a criança vai construindo seu conhecimento da linguagem escrita, que não se limita ao conhecimento das marcas gráficas a produzir ou a interpretar, mas envolve gênero, estrutura textual, funções, formas e recursos linguísticos. Ouvindo histórias, a criança aprende pela experiência a satisfação que uma história provoca; aprende a estrutura da história, passando a ter consideração pela unidade e sequência do texto; associações convencionais que dirigem as nossas expectativas ao ouvir histórias; o papel esperado de um lobo, de um leão, de uma raposa, de um príncipe; delimitadores iniciais e finais (“era uma vez... e viveram felizes para sempre”) e estruturas linguísticas mais elaboradas, típicas da linguagem literária. Aprende pela experiência o som de um texto escrito lido em voz alta.
É à literatura, como linguagem e como instituição, que se confiam os diferentes imaginários, as diferentes sensibilidades, valores e comportamentos através dos quais uma sociedade expressa e discute, simbolicamente, seus impasses, seus desejos, suas utopias. Por isso a literatura é importante no currículo escolar: o cidadão, para exercer, plenamente sua cidadania, precisa apossar-se da linguagem literária, alfabetizar-se nela, tornar-se seu usuário competente, mesmo que nunca vá escrever um livro: mas porque precisa ler muitos. (LAJOLO, 2004, p.106)
A Literatura, por sua vez, é a arte da palavra. Pode-se dizer que a literatura, assim como a língua que ela utiliza, é um instrumento de comunicação e cumpre o papel de transmitir os conhecimentos e a cultura de uma sociedade.
Segundo Oliveira (2013), se tratando do âmbito escolar, a literatura merece grande atenção. Tendo em vista o papel social que a escola possui e sua influência em cada cidadão, é importante que a literatura como fonte de conhecimento e de expressividade humana tenha sua ascensão na sala de aula, com o intuito de despertar o gosto pela leitura, possibilitando, desta forma, uma aula produtiva. No entanto, há uma grande quantidade de jovens pouco interessados pela literatura. Conforme Oliveira (2013), isto ocorre devido à falta de estímulos e incentivo à leitura, bem como as carências que arrolam outras esferas sociais, em especial as condições de ensino e projetos político-pedagógico que não valorizam a literatura em sala de aula.
A experiência da literatura, segundo Soares (2008), é mal abordada no âmbito escolar, em sala de aula. Segundo a autora, devemos e podemos melhor preparar nossos alunos para utilizar e se apropriar de um texto literário e devemos intensificar essa atividade. No entanto, não estamos plenamente preparados para produzir essa experiência como uma realidade mútua para nós e outros leitores. Em outros termos, a experiência da leitura literária é de natureza individual, varia de leitor a leitor e deve ocorrer de forma natural, considerando a privacidade do leitor em sua relação com o objeto literário. Cabe à escola propiciar ou criar atividades que permitam ao aluno o desenvolvimento dessa experiência estética.
Segundo Silva (1998), a escola forma “ledores”, mas não consegue promover o desenvolvimento de leitores críticos, uma vez que, no contexto de sala de aula, a leitura é trabalhada como uma prática rotineira e mecânica. É nesse contexto que, a leitura não deve ser uma atividade ligada à obrigação da rotina de trabalho, mas sim atrelada a uma utilização lúdica e prazerosa de reconstruir mundos possíveis, ampliar conhecimentos e desenvolver os saberes.

Visto que a literatura ajuda o homem a entender seus sentimentos e proporciona a expressividade pela arte, nota-se, desta forma, que se é algo proveitoso e de caráter educativo, deve ser contemplado na escola e em outros espaços sociais que proporcionam educação e cultura. Conforme afirma Cândido (2006), o que é necessário são métodos inovadores, aulas mais didáticas e menos mecânicas, que aproximem o aluno da literatura e cative-o a esta vivência da arte, no intuito de valorizar seu desenvolvimento intelectual e sensibilizá-lo diante de obras literárias. É preciso que o professor aproxime a literatura à realidade dos jovens e mostre o verdadeiro papel do leitor.

O papel do leitor representa, sobretudo, uma intenção que apenas se realiza através dos atos estimulados no receptor. Assim entendidos, a estrutura do texto e o papel do leitor estão intimamente ligados. (ISER, 1996, p. 75)

Referências bibliográficas
CÂNDIDO, A. Literatura e Sociedade. 9ª Ed. rev.Ouro sobre Azul, Rio de Janeiro, 2006.
CARVALHO, Bárbara Vasconcelos de. A Literatura Infantil: Visão Histórica e Crítica. 1985
ISER, Wolfgang. O ato de leitura: uma teoria do efeito estético. Tradução: Johannes Kretschmer. São Paulo: Ed. 34, 1996, v. 1.
LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. Editora ática, 2004.
OLIVEIRA, Solange Alves de. Leitura, compreensão e produção textuais: progressão desses eixos de ensino de língua portuguesa no 1º ciclo. 36° Reunião Nacional da ANPED. GT 10, Alfabetização, leitura e escrita. Goiânia – GO. Setembro, 2013.
SILVA, E. T. da. Ato de ler: fundamentos psicológicos para uma nova pedagogia de leitura. São Paulo, Cortez – Autores Associados, 1998.
SOARES, Magda. Alfabetização e letramento. São Paulo: Contexto, 2008.
ZILBERMAN, Regina. Literatura infantil e introdução à leituraIn: SCHOLZE, Lia: ROSING, Tania M. K. (Org.) Teorias e práticas de letramento. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2007.