Na
perspectiva de letramento, entendido como um
fenômeno que envolve saberes e atitudes que estão presentes nos contextos
sociais da leitura e da escrita, pode-se ressaltar a suma importância do
trabalho que investe na formação do leitor a partir de diferentes tipos /
gêneros textuais. Sobretudo, aquele que investe no letramento literário.
De
acordo com o Dicionário Aurélio básico da Língua Portuguesa, o termo Literatura
tem origem no latim “litteris” que
significa “letras”. Em latim literatura significa uma instrução ou um conjunto
de saberes ou habilidades de escrever e ler bem, e se relaciona com as artes da
gramática, da retórica e da poética. Segundo o dicionário, a
literatura é a arte de compor obras em que a linguagem é usada esteticamente e
em que é usada uma língua como meio de expressão.
Literatura
(mitos, estórias, contos, poesias) é uma das maiores riquezas da humanidade,
pois permite que o indivíduo crie possibilidades para conhecer, transmitir e
comunicar-se com o mundo que o cerca e com o seu imaginário. Carvalho afirma
que a
Literatura
é a arte de ouvir e de dizer, logo, nasce com o homem. Suas origens se
assinalam com o uso da palavra: filogeneticamente, o homem aprendeu a falar –
dizer – antes de ler e escrever, como, ontogeneticamente, acontece à criança,
portadora de sua bagagem linguística, antes de alfabetizar-se. E essa
capacidade de ouvir e dizer é o ponto de partida da Literatura. (CARVALHO,
1985, p.47)
O letramento literário é o processo de
apropriação da literatura enquanto linguagem. Este letramento começa desde as cantigas
de ninar na infância e continua por toda nossa vida a cada livro lido, a cada
novela ou filme assistido, a cada reportagem ou matéria e em diversos aspectos
do nosso cotidiano.
Contudo, o letramento literário efetiva-se
quando acontece o relacionamento entre um objeto material, o livro, e aquele
universo ficcional, que expressa por meio de gêneros específicos – a narrativa
e a poesia, entre outros – a que o ser humano tem acesso graças à audição e à
leitura. (ZILBERMAN, 2007, p. 247)
Investir no letramento literário abre portas
para o universo da imaginação, que nos permite desenvolver o pensamento
criativo, fundamental para nossa inserção no mundo moderno.
Britton
(apud Kato, 1997) já afirmava que, ao ouvir histórias, a criança vai
construindo seu conhecimento da linguagem escrita, que não se limita ao
conhecimento das marcas gráficas a produzir ou a interpretar, mas envolve
gênero, estrutura textual, funções, formas e recursos linguísticos. Ouvindo
histórias, a criança aprende pela experiência a satisfação que uma história
provoca; aprende a estrutura da história, passando a ter consideração pela
unidade e sequência do texto; associações convencionais que dirigem as nossas
expectativas ao ouvir histórias; o papel esperado de um lobo, de um leão, de uma
raposa, de um príncipe; delimitadores iniciais e finais (“era uma vez... e viveram felizes para sempre”) e estruturas
linguísticas mais elaboradas, típicas da linguagem literária. Aprende pela
experiência o som de um texto escrito lido em voz alta.
É à literatura, como linguagem e como
instituição, que se confiam os diferentes imaginários, as diferentes
sensibilidades, valores e comportamentos através dos quais uma sociedade
expressa e discute, simbolicamente, seus impasses, seus desejos, suas utopias. Por
isso a literatura é importante no currículo escolar: o cidadão, para exercer,
plenamente sua cidadania, precisa apossar-se da linguagem literária,
alfabetizar-se nela, tornar-se seu usuário competente, mesmo que nunca vá
escrever um livro: mas porque precisa ler muitos. (LAJOLO, 2004, p.106)
A
Literatura, por sua vez, é a arte da palavra. Pode-se dizer que a literatura,
assim como a língua que ela utiliza, é um instrumento de comunicação e cumpre o
papel de transmitir os conhecimentos e a cultura de uma sociedade.
Segundo
Oliveira (2013), se tratando do âmbito escolar, a literatura merece grande
atenção. Tendo em vista o papel social que a escola possui e sua influência em
cada cidadão, é importante que a literatura como fonte de conhecimento e de
expressividade humana tenha sua ascensão na sala de aula, com o intuito de
despertar o gosto pela leitura, possibilitando, desta forma, uma aula
produtiva. No entanto, há uma grande quantidade de jovens pouco interessados
pela literatura. Conforme Oliveira (2013), isto ocorre devido à falta de
estímulos e incentivo à leitura, bem como as carências que arrolam outras
esferas sociais, em especial as condições de ensino e projetos
político-pedagógico que não valorizam a literatura em sala de aula.
A
experiência da literatura, segundo Soares (2008), é mal abordada no âmbito
escolar, em sala de aula. Segundo a autora, devemos e podemos melhor preparar
nossos alunos para utilizar e se apropriar de um texto literário e devemos
intensificar essa atividade. No entanto, não estamos plenamente preparados para
produzir essa experiência como uma realidade mútua para nós e outros leitores.
Em outros termos, a experiência da leitura literária é de natureza individual,
varia de leitor a leitor e deve ocorrer de forma natural, considerando a
privacidade do leitor em sua relação com o objeto literário. Cabe à escola
propiciar ou criar atividades que permitam ao aluno o desenvolvimento dessa
experiência estética.
Segundo
Silva (1998), a escola forma “ledores”, mas não consegue promover o
desenvolvimento de leitores críticos, uma vez que, no contexto de sala de aula,
a leitura é trabalhada como uma prática rotineira e mecânica. É nesse contexto
que, a leitura não deve ser uma atividade ligada à obrigação da rotina de
trabalho, mas sim atrelada a uma utilização lúdica e prazerosa de reconstruir
mundos possíveis, ampliar conhecimentos e desenvolver os saberes.
Visto
que a literatura ajuda o homem a entender seus sentimentos e proporciona a
expressividade pela arte, nota-se, desta forma, que se é algo proveitoso e de
caráter educativo, deve ser contemplado na escola e em outros espaços sociais
que proporcionam educação e cultura. Conforme afirma Cândido (2006), o que é
necessário são métodos inovadores, aulas mais didáticas e menos mecânicas, que
aproximem o aluno da literatura e cative-o a esta vivência da arte, no intuito
de valorizar seu desenvolvimento intelectual e sensibilizá-lo diante de obras
literárias. É preciso que o professor aproxime a literatura à realidade dos
jovens e mostre o verdadeiro papel do leitor.
O
papel do leitor representa, sobretudo, uma intenção que apenas se realiza
através dos atos estimulados no receptor. Assim entendidos, a estrutura do
texto e o papel do leitor estão intimamente ligados. (ISER, 1996, p. 75)
Referências bibliográficas
CÂNDIDO,
A. Literatura e Sociedade. 9ª Ed.
rev.Ouro sobre Azul, Rio de Janeiro, 2006.
CARVALHO, Bárbara Vasconcelos de. A Literatura Infantil: Visão Histórica e Crítica. 1985
ISER,
Wolfgang. O ato de leitura: uma teoria do
efeito estético. Tradução: Johannes Kretschmer. São Paulo: Ed. 34, 1996, v.
1.
LAJOLO,
Marisa. Do mundo da leitura para a
leitura do mundo. Editora ática, 2004.
OLIVEIRA,
Solange Alves de. Leitura, compreensão e
produção textuais: progressão desses eixos de ensino de língua portuguesa no 1º
ciclo. 36° Reunião Nacional da ANPED. GT 10, Alfabetização, leitura e
escrita. Goiânia – GO. Setembro, 2013.
SILVA,
E. T. da. Ato de ler: fundamentos
psicológicos para uma nova pedagogia de leitura. São Paulo, Cortez –
Autores Associados, 1998.
SOARES, Magda. Alfabetização e letramento. São
Paulo: Contexto, 2008.
ZILBERMAN, Regina. Literatura infantil e introdução à leitura. In: SCHOLZE, Lia: ROSING, Tania M. K. (Org.) Teorias e práticas de letramento. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2007.